quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Contabilizando uma Melhoria




Jefferson Escobar


As iniciativas de melhorias devem estar cada vez mais em sintonia com o negócio das empresas, portanto as métricas financeiras são fundamentais para definir prioridades e viabilizar os investimentos necessários para implantação de projetos de melhoria.
É importante ressaltar que quando se tratam de programas de sugestões ou círculos da qualidade, com participação quase que exclusivamente operacional, com objetivos de incremento da moral e motivação das pessoas, este enfoque econômico-financeiro não é adequado. Inicialmente pela própria natureza destas iniciativas e também pelo fato de, geralmente, não requererem investimentos. Obviamente que, nestes casos, por intermédio da motivação e comprometimento gerados nesses programas, também existirá uma contribuição para o melhor desempenho da organização. 
A abordagem deve ser diferente quando se tratam de projetos/ modelos de melhoria contínua que buscam vantagens competitivas nos processos da organização. A utilização de recursos e investimentos e a adoção destes modelos como estratégia de negócios, tornou o processo de mensuração econômico-financeira como parte integrante no ciclo de melhorias das empresas.
Projetos de melhorias focadas no chão de fábrica objetivam, geralmente, a redução dos custos operacionais, como mão-de-obra, matéria-prima, energia, consumíveis (ar comprimido, óleo refrigerante, moldes), aluguéis e outros. Estes ganhos são proporcionados por redesenho de lay-out, balanceamento nas atribuições dos operadores, redução de defeitos/ retrabalhos, redução nas quebras dos equipamentos, redução de tempo de setup, melhorias na logística interna, melhorias no fluxo dos materiais na linha de fabricação/ montagem, entre outras técnicas relacionadas à estratégias como TFM (Total Flow Management), TPM (Total Productive Maintenance) e TQM (Total Quality Management). Adicionalmente a redução destes custos, ganhos com diminuição de estoques – e outros recursos desnecessários - são relevantes, pois permitem a disponibilização de capital para rendimento no mercado financeiro ou para investimentos na produção/desenvolvimento.
A participação da área financeira nos projetos de melhoria é importante desde o ínicio - ainda na fase de seleção de prioridades e planejamento - garantindo a validação dessas informações em todas as etapas.
Na seqüência serão apresentados os tipos de ganhos e as despesas que devem ser considerados na mensuração econômico-financeira. Posteriormente, haverá uma breve introdução aos indicadores de avaliação de projetos e suas respectivas análises.

2. GANHOS:

2.1. Classificação quanto a Freqüência:
Em relação a sua freqüência, os ganhos podem ocorrer de duas formas básicas: Ganhos Recorrentes e Ganhos Pontuais.
2.1.1. Ganhos Recorrentes
Classificam-se nesta denominação aqueles ganhos que serão contabilizados repetitivamente: tanto os ganhos contabilizados quando for gerada uma unidade do produto final da área em que foi desenvolvido o projeto de melhoria (geralmente ganhos de mão-de-obra, materiais, consumíveis), quanto os ganhos contabilizados em freqüência temporal – mensal, anual, etc. (ganhos em aluguéis, por exemplo). 
2.1.2. Ganhos Pontuais
Além dos ganhos repetitivos, os projetos de melhoria podem ainda proporcionar ganhos pontuais, ou seja, ganhos que serão contabilizados de forma unitária, não se perpetuando ao longo do tempo.
Dentre estes ganhos estão os provenientes da venda de ativos disponibilizados após o projeto de melhoria, exemplo: móveis, equipamentos, galpões, etc. Outra possibilidade de ganhos pontuais é quando a melhoria evita um investimento futuro já planejado.
2.2. Classificação quanto a Natureza:
Analisando os ganhos pela sua natureza, têm-se os seguintes tipos:
2.2.1. Ganhos de Mão-de-Obra
Inicialmente é fundamental destacar que a organização deve lidar com estes ganhos sem gerar desmotivação e falta de comprometimento das pessoas. É importante a empresa usufruir deste ganho para as novas contratações, ou seja, no processo de turnover do quadro de funcionários. O ideal é que realizadas as melhorias, o ganho de mão-de-obra na área seja traduzido pela transferência de funcionários que se destacaram durante a implantação do projeto para áreas onde será realizado um similar processo de melhoria. A consistência da mentalidade organizacional de melhoria contínua só é possível com transparência e valores sociais.
A mensuração de ganho deve incluir salários, encargos e benefícios, sendo que, seguindo o raciocínio de redução de futuras contratações, devem-se utilizar os valores de salário inicial para a função operacional da área em questão.
Muitas vezes, o ganho de mão-de-obra vem caracterizado em  redução de horas-extras. Nestes casos, a contabilização deste ganho deve ser realizada utilizando o custo de hora extra considerado pela área financeira da empresa.
Quando se fala em ganho de mão-de-obra, a análise não pode se limitar aos funcionários de fabricação/ montagem. Na área de logística interna, por exemplo, quando da implantação de produção puxada com operador de rota de materiais – conhecido também como mizusumashi – é necessário considerar a mão-de-obra requerida e comparar com a situação anterior.
2.2.2. Ganhos de Materiais
Assim como no caso da mão de obra direta, os ganhos em redução de matéria-prima ou componentes adquiridos, utilizados por unidade de produto produzida ou montada, afetam diretamente a margem de contribuição de um produto.
Por sua classificação como custo variável, a mensuração não apresenta muitas dificuldades, pois com as quantidades antes e após melhoria e o custo unitário do material, calcula-se diretamente os ganhos por produto.
2.2.3. Ganhos de Energia Elétrica
Geralmente o custo variável com energia elétrica é rateado pela área financeira tomando com base algum critério estimado ou calculado pela área de Utilidades ou Manutenção. É importante alinhar os dados para cálculo com essas áreas de forma a contabilizar corretamente este ganho. A energia elétrica é um custo especialmente relevante em alguns processos, como, por exemplo, Fundição e Tratamento Térmico.
Ainda existe uma outra parcela da conta de energia elétrica que não possui correlação direta com o consumo: é o custo relativo à demanda contratada com a distribuidora de energia elétrica. Caso o consumo de energia tenha uma redução de tal forma que a demanda contratada possa ser inferior ao valor atual, esta demanda sobressalente pode ser negociada de forma a proporcionar um ganho adicional à organização.
2.2.4. Ganhos de Consumíveis
Neste grupo, dependendo do processo, pode haver itens como ar comprimido, ferramentas de usinagem, moldes, tintas, óleo refrigerante, consumíveis refratários, água, eletrodos de solda, etc.
É importante analisar se a melhoria proporcionou ganho em algum destes custos e contabilizar na análise do projeto.
2.2.5. Ganhos de Área
Projetos de melhoria onde se obtêm redução de área física utilizada podem ser representados de forma financeira em alguns casos.
Caso o ganho de área permita a empresa economizar em termos de aluguel, por exemplo, de um galpão, deve-se contabilizar este valor mensal economizado.
Uma outra possibilidade é quando o ganho de área possibilita que a empresa venda ou alugue um imóvel. Caso essa situação seja factível, deve-se contabilizá-la também.
Ainda existem casos em que a redução de área permitirá uma redução em um investimento futuro já planejado (aluguel ou compra de imóvel).
Exceto nos casos citados acima, as organizações geralmente não contabilizam ganho de área de forma financeira, contudo, mesmo neste caso, é importante registrar a melhoria na área utilizada.
2.2.6. Ganhos de Investimentos
Muitas vezes o projeto de melhoria cria uma situação que permite a redução ou eliminação de um investimento previsto em orçamento. Por exemplo, em uma melhoria que é gerada um aumento de capacidade de produção, torna-se desnecessário um investimento de expansão planejado para o ano seguinte. A empresa deixará de desembolsar uma quantia de dinheiro que deverá ser contabilizada como ganho do projeto de melhoria. Contudo, é importante atentar para que o ganho seja considerado como se ocorresse no período que estava programado o desembolso para o investimento. 
2.2.7. Ganhos de Venda
Uma análise que muitas vezes é importantíssima e pode representar um ganho extremamente valioso é quando as melhorias implantadas proporcionam um aumento de receita. Isto ocorre em casos que existe demanda de venda para um aumento de capacidade produtiva, ou seja, o aumento de capacidade proporcionado pela melhoria será transformado em maior produção, mais venda e maior receita. A ressalva que deve ser feita é em relação a existir demanda real para o volume adicional, informação que deve vir da área de Marketing/ Vendas.
Nesses casos, o ganho contabilizado não é o adicional de receita, mas a parcela referente à margem de contribuição dos produtos adicionais (receita subtraída dos custos variáveis). 
2.2.8. Ganhos em Incentivos Fiscais
 Em algumas ocasiões, dependendo da legislação vigente, é possível obter algum incentivo fiscal - geralmente em abatimento de impostos - em decorrência da realização de projetos de melhoria.
2.2.9. Ganhos Intangíveis
Apesar de financeiramente serem difíceis de contabilizar, existem ganhos que são importantes e devem, ao menos, ser registrados. Neste grupo incluem-se, por exemplo, ações de organização (5S’s, por exemplo) e ações de ergonomia ou segurança.

3. INVESTIMENTOS
Obviamente que para realizar a avaliação econômico-financeira do projeto de melhoria é necessário coletar os dados relativos aos desembolsos para que seja possível realizar a comparação entre ganhos e investimentos. Portanto, devem-se contabilizar os investimentos e custos necessários na implantação da melhoria.
Geralmente estes custos são pontuais, ou seja, ocorrem de uma única vez e não oneram o custo operacional.  Por exemplo, em melhorias de fluxo pode haver a necessidade de investimento para confecção dos bordos de linha, supermercados, contêineres, caixa de nivelamento, caixa logística, cartões kanban, recursos do mizusumashi (vagões, transportadores motorizados), mudança de lay-out. Em melhorias de setup podem ser requeridos recursos tais como prateleiras, quadro de ferramentas, bancadas de pré-montagem, calços, grampos, batentes. Em projetos de qualidade podem ser necessários a construção de show-room de defeitos, quadro para Matriz de Auto Qualidade, Andons.
 
4. AVALIAÇÃO FINANCEIRA

Coletados os dados de ganhos e investimentos é possível realizar o cálculo de viabilidade econômico-financeiro do projeto. Existem alguns métodos para a realização deste estudo como cálculo do pay-back, cálculo do valor presente liquido (VPL) e cálculo da taxa interna de retorno (TIR).
 O método do pay-back é o mais simples de calcular, mas por não considerar o custo de oportunidade do capital, não é adequado para todos os projetos. O pay-back representa o período de tempo necessário para que os benefícios do projeto compensem integralmente o investimento realizado. Por exemplo, em um projeto de melhoria cujo investimento de R$ 5 mil proporciona ganhos mensais de R$ 2,5 mil, o pay-back do projeto é de dois meses. Portanto, disse-se que o projeto “se paga” em dois meses.
O VPL e a TIR são mais adequados para o cálculo financeiro de projetos a longo prazo, pois consideram o custo de oportunidade do capital ao longo do tempo.
A técnica do VPL consiste em calcular cada valor de ganho e investimento como se ocorresse no mesmo período presente, portanto descontando a taxa mínima de atratividade do mercado. Como existem os ganhos repetitivos, é necessário definir um período para calcular o VPL, exemplo: dois anos, três anos, cinco anos. Além disso, a empresa poderá considerar apenas o período de contrato de fornecimento com o cliente daquele produto ou vida útil do tipo de produto que a empresa fornece. Adotando os desembolsos como valores negativos e os ganhos como valores positivos, a análise do VPL resultando em número positivo indica que os ganhos superaram os gastos.
O TIR é a taxa de rentabilidade do projeto, considerando o fluxo de caixa proporcionado (saídas e entradas de capital). Por exemplo, desenhando um fluxo de caixa de períodos anuais, a taxa calculada será anual. O valor da TIR deverá ser comparado com a taxa de atratividade mínima do mercado – lembrando que ambas deverão ter como base o mesmo período (mensal ou anual, por exemplo).

5. CONCLUSÃO:
A análise financeira é vital nas diversas fases de evolução de projetos de melhoria: seja na elaboração de um escopo inicial através de levantamento de dados para avaliação do potencial de viabilidade; seja durante as etapas de execução, proporcionando o acompanhamento da relação causa-efeito das ações realizadas e, se necessário, correção de estratégia; ou, ainda, seja no encerramento do projeto de melhoria, avaliando a situação real frente ao planejamento inicial, permitindo a contabilização final do projeto. 
Para realizar a avaliação econômico-financeira é necessário levantar uma série de dados em conjunto com a área financeira da empresa. Contudo, pode-se afirmar que os dados para análise financeira são basicamente classificados em apenas dois tipos: saídas e entradas de capital. Um bom projeto é aquele em que a diferença entre as entradas (ganhos) e as saídas (desembolsos) de capital seja tal que o projeto se torna viável financeiramente para a empresa. Para isso existem indicadores que permitirão realizar a correta avaliação deste fluxo de caixa.
A aplicação da análise econômico-financeira em projetos de melhoria - mesmo naqueles em que o valor de investimento é praticamente nulo - é importante, pois permite contabilizar os ganhos obtidos, além de provocar motivação e gerar credibilidade perante as pessoas quanto à utilização da metodologia de melhoria.

Fonte: 
http://br.kaizen.com/artigos-e-livros/artigos/contabilizacao-de-ganhos-em-projetos-de-melhorias.html


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