Em 2015, a indústria automobilística brasileira vem colecionando uma série de resultados
negativos. Maio foi o pior mês em vendas diárias dos últimos cinco anos. Mais de 100
concessionárias fecharam as portas. Cerca de 20 mil empregos desapareceram apenas na
região do Grande ABC, em São Paulo, principal polo nacional do setor. Os investimentos
encolheram e projetos foram cancelados. A tragédia só não é completa graças à
surpreendente performance das fabricantes de origem asiática. De janeiro a abril, as vendas da
Honda cresceram 15%. Na Nissan, a alta foi de 13,8%, pouco acima da evolução da Toyota, de
11%, que, assim como a Honda, abriu turnos extras nas fábricas para atender à crescente
demanda.
Enquanto isso, as tradicionais líderes de mercado derrapam. Na Fiat, a queda no
número de emplacamentos foi de 31,8% nos quatro primeiros meses do ano. Volkswagen e
General Motors também viram suas vendas caírem mais de 20%. O que explica resultados tão
ruins se um grupo restrito de montadoras está com o pé no acelerador em plena crise
econômica?
De acordo com os especialistas, uma das razões para o sucesso das asiáticas pode estar na
qualidade do atendimento. Uma pesquisa realizada pela Creating Value Consultoria mostrou
que as marcas mais recentes a se instalar no Brasil são as que tratam melhor o consumidor. A
Toyota e Honda desembarcaram no País nos anos 90. A Nissan, no ano 2000. Quando elas
chegaram, as gigantes que dominam o setor no País atuavam no território brasileiro há pelo
menos três décadas. Não à toa, Honda e Toyota lideram os principais rankings de satisfação
dos clientes. “As montadoras asiáticas lutaram muito para garantir qualidade nos produtos”,
diz José Roberto Ferro, presidente do Lean Institute Brasil. “Isso fez com que conquistassem
uma boa reputação.”
Uma característica específica do mercado brasileiro elucida os resultados das montadoras. Ao
contrário do que acontece nos Estados Unidos e nos países europeus, no Brasil os carros de
motorização baixa são, de longe, os mais procurados. Em tempos de crise, são os veículos
populares que sofrem as piores consequências. De janeiro a abril de 2015, as vendas de
automóveis com motor até 2.0 caíram 19,8%. Acima de 2.0, os resultados também são
negativos, com retração de 13%. A diferença entre os percentuais, porém, é bastante
significativa. Ou seja: quanto maior o preço, menor a queda nas vendas. A Honda não oferece
carros populares no mercado brasileiro e a Toyota só tem um modelo compacto, Etios, lançado
em 2012.
“Na minha visão, há excesso de pessimismo”, diz François Dossa, presidente da Nissan no
Brasil. Avançar num mercado retraído não significa, porém, que as asiáticas estão imunes às
dificuldades atuais. “Nós sofremos como todo mundo”, diz Ricardo Bastos, diretor da área de
Relações Governamentais e Públicas da Toyota. “Estamos trabalhando com margens mais
apertadas.” Toyota e Honda planejam até ampliar seus negócios. A Honda vai investir R$ 1
bilhão em sua segunda fábrica no País, em Itirapina, no interior de São Paulo, e deve dobrar a
capacidade produtiva da empresa de 120 mil unidades por ano para 240 mil. A Toyota
pretende construir uma nova fábrica de motores na cidade de Porto Feliz, com inauguração
prevista para 2016. A boa notícia é que o mercado como um todo espera acelerar a partir do
segundo semestre de 2015. “Vivemos uma fase de ajuste”, afirma Cledorvino Belini,
presidente do grupo Fiat Chrysler para a América Latina. “Estou confiante na recuperação de
vendas, assim que a confiança dos consumidores estiver maior.”
Fonte: http://www.lean.org.br/comunidade/clipping/clipping_323.pdf
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